Ele acorda e cantarola a música no banho. Over and over and over. Ela está obcecada pelo Hot Chip e passou a doença a diante.
Ele cantarola e lembra que foi nessa música que ela achou que a cadeira giratória do computador podia contribuir com a dança. Ri. Sente tesão. Acha o mundo ridículo e feliz. Lembra que tava boa a vida procurando. Encontrar dá medo, preguiça e uma sensação estranha de estar se perdendo. Será que eu vou querer namorar essa louca? Será que essa louca vai querer namorar comigo?
Aí ele lembra. Caraca! É mesmo! A menina escreve. Sem pudor. Falaram pra ele. A essa altura do campeonato, já deve ter um texto publicado falando da noite anterior. Será que ela achou bom? Será que ela vai publicar o tamanho da minha alma? Da minha tatuagem? Do meu pé?
Ele corre com o banho. Ainda cantarola, mas agora é com um pouco de medo. Precisa entrar logo naquele site desgraçado. Todo cheio de desenhinhos inacabados e leves. Mas é ali mesmo que ela acaba com todo mundo e sem nenhuma leveza.
Corre com seu carro que ainda tem o cheiro dela e uns fios de cabelo, agora castanhos escuros, pendurados no assento do passageiro. Foi bom. A noite foi boa. Ela não vai falar mal de mim. E também não vai falar nada de mim. Nem bem. Como ele quer que ela seja misteriosa e suma durante todo o dia de hoje. Ele quer sentir o frio na barriga, o nervoso pra saber se ela vai atender ou não. Não seja fácil, minha filha. Não escreve que gostou. Deixa eu sofrer um pouco. Deixa.
Ele chega na agência e não vai direto pro café. Espera ninguém estar passando atrás dele e digita o site dela. Sua frio, melhor pegar o café. Não, vai de uma vez. Vai. Abre. E de repente. Lá está. Um texto. Um texto pra ele. Caramba, ela já escreveu? É o primeiro texto que alguém escreve pra ele, tirando uma tontinha da época da faculdade que botava frases do tipo “eu sei que quando tiver de ser, será” nas cartinhas que ele nem lembra mais onde foram parar. Coitada. Agora é uma escritora de verdade. Ele ri, porque a escritora de verdade se acha um pouco dizendo que é de verdade.
Ele gosta dela. Não tem mais como fugir. É, da medo. Ela deve estar com medo também. Gostar é começar o inferno tudo de novo. Mas ela, quem diria, escreve lá no texto que topa. Topa começar tudo de novo. E faltando dois parágrafos pra terminar o texto, ela manda, na lata mesmo: “quero te ver hoje”. O que será que ele vai responder?
Ele então pega o café. E sai cantando como se o dia estivesse diferente. Over and over and over and over...
domingo, 19 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Fofoca.
Dor de dente. Dor de cotovelo. Gente sem noção. Mensagens-cabeça no
msn. (Odeio e, por isso, exclui o meu). Telemarketing. Telefone. Gente
que não tem nada a ver com a história. Imposto de renda. Falta de
dinheiro. Falta de saúde. Falta de jeito. Falta de noção. Falta de
pontualidade. Falta de atitude. Falta de humor! Ficar gripada
no feriado. Minha impressora. Cólica. Jiló. A síndica do prédio. Gente
pessimista. Engordar. Tédio. A violência no mundo. Gente que fala “é
nuix”. Homem mudo por opção. Homem hetero que usa mais cremes que eu.
Essa mania das pessoas falarem: já casou? Mulher que não tem
personalidade, te imita em tudo e finge que é original. Frases sem
créditos ao autor. Fotos sem crédito ao fotógrafo. Falta de respeito aos
artistas. Falta de incentivo aos artistas que realmente precisam.
Espinha (de qualquer tamanho, em qualquer lugar). Pinça ruim que não
pinça nada. Piriguete que curte TUDO que seu namorado posta no facebook.
Homem que faz luz no cabelo. Shampoo Dove. Segunda-feira. Gente que se
faz de vítima. Bipolares não diagnosticados (e, consequentemente, não
tratados). Caneta estourar dentro da bolsa. Jornal Nacional. Música
ruim. Sapato que arranca o esmalte do dedão. Gente que acha que é muito
amiga. Transporte público em Belo Horizonte. Pessoas com perfume forte
que te abraçam e te impregnam com o cheiro. Escritoras famosinhas que te
criticam e depois escrevem o mesmo que você (ser pessimista no amor é
ultrapassado, meu bem!). Quebrar a unha. A faxineira te mandar SMS
avisando que só volta daqui a duas semanas. Lavar louça. Ir à praia e se
preocupar com o filtro–solar toda hora (da última vez eu fiquei com um
vermelho em formato de coração no joelho). Ressaca. Fazer dieta.
Políticos corruptos. Sentir ciúmes. Ficar sem tempo pra não fazer nada.
Gente que só te pede favor (puta merda, caralho! Parem de pedir!). Gente
que fala palavrão demais. Pseudo-intelectuais. Gente com visual muito
moderno (tenho aflição e fico confusa). Homens com calça skinny que não
sejam magrelos e não pertençam aos Strokes. Heteros mais sensíveis que
eu (vocês estão de sacanagem, né)? Gente com mania de grandeza (“ tenho
um carro tal, relógio tal, caneta tal”... FODA-SE, vai escrever com Bic,
seu deslumbrado!). Pessoas que maltratam garçons e vendedores de lojas
(me identifico com ambos. E sofro). Ex-namoradas do seu atual que nunca
tiveram TPM (morram, vocês não são humanas!). Gente que tira foto SÓ pra
postar no facebook e fingir que é feliz. Suco de caju (não posso
esquecer disso nunca, é minha criptonita!). Viajar de ônibus com alguém
do seu lado que come mexerica (ou queijo coalho). Filmes dublados
(sempre com a voz da família Dinossauro – socorro!). Ficar no vácuo no
What´s up. Dizer “te adoro” e ouvir: “OK”. E, o pior de tudo: descobrir
que essa lista ainda nem começou...
(da série "não, eu não sou fofa" de Fernanda Mello) rs
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